Se és como eu, já começaste a fazer o balanço deste ano que termina e a pensar nas tuas resoluções de ano novo.
O fim do ano aproxima-se a passos largos e, inevitavelmente sentimo-nos como se a contagem voltasse ao zero e pudéssemos acreditar que agora é que é, que no próximo ano vamos fazer tudo o que ainda não conseguimos fazer. É uma lufada de ar fresco na nossa vida, uma pausa para refletir e recomeçar. E quando estamos assim, numa maré de esperança num futuro melhor, é fácil fazermos promessas. Tudo parece possível. Ainda por cima, só começa a contar no próximo ano, certo? Agora ainda podemos fazer batota.
Só que eu, este ano, resolvi que ia ser diferente. Em vez de esperar pelo primeiro dia do ano, que inevitavelmente é adiado para o segundo e para o terceiro ou para a semana seguinte, decidi começar já. Afinal, porquê esperar? Se pensares bem, o novo ano é apenas uma data simbólica.
Ao começar já a pôr em prática as minhas resoluções, ainda tenho uns dias até ao fim do ano para afinar as minhas estratégias, para falhar e recomeçar, para definir metas diárias e semanais, de forma a assegurar-me o mais possível de que estes objetivos serão alcançados.
Defini então 3 pontos principais a melhorar na minha vida: a alimentação, a atividade física e o que vou chamar de “imersão cultural”.
Não vale a pena tentarmos fazer progressos em mais do que 3 frentes em simultâneo, pois implica demasiado esforço a juntar a tudo o que já temos para fazer normalmente e acabamos por desistir.
No primeiro ponto, a alimentação, defini objetivos diários e sempre positivos, ou seja, em vez de pensar que não vou comer tantos doces ou comidas gordurosas, estabeleci que tenho de comer 2 a 3 peças de fruta e verduras por dia, 1 a 2 laticínios, beber 2 litros de água, etc.
Esta técnica funciona porque definir coisas proibidas, apenas nos vai fazer desejar ainda mais comê-las, porque o fruto proibido é sempre o mais apetecido e porque, ao dizermos “Não posso comer chocolate”, o nosso cérebro só vai pensar em chocolate. Ora tenta lá não pensar num elefante azul de óculos e fumar cachimbo… :p Estás a vê-lo? Se pões a imagem no teu cérebro, é nisso que ele se vai focar. Além disso, quando dizes que não a algo, o teu cérebro fica parado, à espera do que fazer em vez disso e, se não obtiver uma alternativa rapidamente, vai seguir pelo caminho de sempre, mantendo os velhos hábitos.
Ao definir alimentos saudáveis que tenho de ingerir em certa quantidade diariamente, estou a dar uma ordem ao meu cérebro do que deve fazer e não o contrário. Estou a focá-lo nas coisas certas, em vez de estar a gastar a minha força de vontade nas coisas erradas.
No que respeita à atividade física, além de pegar no meu filho de 12kg ao colo todos os dias, tenho uma vida bastante sedentária. Nunca gostei de fazer exercício, mas todos os anos noto que o corpo se queixa da inatividade. Por vários motivos, ginásios estão fora de questão, mas tenho uma passadeira em casa, há muito arrumada e a ganhar pó. Está até desmontada desde que mudamos de casa. Detesto andar na passadeira… Porém, para facilitar, resolvi aliar esta atividade física, com uma parte da minha terceira resolução, “imersão cultural”. Como vou fazer isso? Pois bem, uma parte da minha “imersão cultural” passa por ler no mínimo 1 livro por mês.
Sempre gostei de ler, em criança e adolescente, lia constantemente, passava dias a ler, às vezes lia mais do que um livro ao mesmo tempo. Depois, as responsabilidades aumentaram, o tempo livre diminuiu e o cansaço foi-se acumulando. As séries de televisão eram muito mais fáceis de consumir passivamente, ainda muito antes de existir Netflix, e a leitura foi sendo posta cada vez mais de lado. A minha biblioteca continuou a aumentar durante uns anos. De vez em quando, passava por um livro que me captava a atenção e acabava por comprá-lo, sempre com a promessa de que este, ia ler. E lá continuam eles, ainda por ler.
Experimentei e-readers, audiobooks e pouco mudou. Ouvi um ou outro livro, mas depois, com um bebé, não podia estar com auscultadores, porque ele podia chorar e eu não ouvir. Se tento ler ou ouvir um audiobook, à noite, depois de o deitar, ao fim de 15 minutos, já estou a dormir. Além disso, eu leio mesmo muuuuito devagar: 30 páginas por hora nos dias bons, por isso o meu desafio de ler 1 livro por mês é bastante desafiador para mim.
Então, como vou aliar a leitura ao exercício físico? Vou ouvir entre 30 a 60 minutos de um audiobook, todas as noites, enquanto faço lides domésticas ou, estando estas terminadas, ando na passadeira. Assim, não adormeço porque estou em movimento e junto duas tarefas, o que é excelente, uma vez que tempo livre não é algo que tenha em abundância.
Como a leitura do audiobook é mais rápida do que a minha e consigo até duplicar a velocidade, continuando a captar o conteúdo, em pouco tempo, consigo terminar um livro, o que me dá margem para dias em que não tenho tempo para ler, continuando a cumprir o meu objetivo de ler 1 livro por mês.
Esta tática funciona porque estou a aliar um hábito novo que quero criar a coisas que já faço habitualmente: ouvir um audiobook enquanto trato das lides domésticas à noite, e de seguida, andar um pouco na passadeira. Trato das lides domésticas todos os dias, por isso, não há como esquecer, é como lavar os dentes antes de ir dormir. Os hábitos são mais fáceis de criar e manter quando se juntam a outros hábitos.
Finalmente, o resto da minha “imersão cultural” passa por tirar partido de ocasiões sociais e profissionais, almoços, jantares, reuniões, conversas, para voltar a conhecer a minha cidade, que tem mudado freneticamente nos últimos anos, quase sem eu me aperceber, porque, entre ter um negócio próprio e um filho pequeno, a vida vai passando e nós nem sempre damos conta.
Por isso, mais uma vez, juntar coisas que já faço, com outras que quero passar a fazer. Uma reunião pode acontecer num café na baixa ou a dar um passeio pelos Lóios, em vez de ser por Skype ou na minha sala de reuniões. Um encontro de amigos pode incluir ver a nova exposição ou uma ida ao teatro. O verdadeiro desafio aqui, está em combater a inércia e a preguiça com a curiosidade e vontade de me manter atualizada.
E a ti, o que te tem impedido de cumprir as tuas resoluções de ano novo? Conta-me tudo nos comentários.